Como as empresas podem se proteger de crises motivadas pela polarização política

Após anos de Fla x Flu político, caso Nubank mostra despreparo das grandes marcas para proteger seu principal ativo: a imagem pública

O Brasil vive um momento que obriga empresas de todos os segmentos a compreenderem o cenário político do país para evitar prejuízos à própria reputação e, portanto, a seus resultados financeiros.

Parte substancial das companhias precisa navegar diretamente no mundo da política. Por meio de suas assessorias, interagem com agentes que vão desde assessores aos próprios legisladores, reguladores e membros do Judiciário –um braço do Estado cada vez mais suscetível às nuances e práticas do mundo político.

Para se posicionar de forma inequívoca nesse cenário, de modo alinhado com os objetivos estratégicos da empresa e sem abiguidades, é preciso entender quais valores, ideias, narrativas, pessoas e instituições se associam a cada posição do espectro político”, diz Fábio Brandt, especialista em comunicação de crise e fundador da consultoria Novo Selo Comunicação.

Caso Nubank

O que prevalece no ambiente nacional, já há alguns anos, é uma rígida divisão ideológica. Parte da população ama a esquerda e repudia a direita. Parte dela ama a direita e repudia a esquerda. Mas, mesmo com o país estagnado nessa situação há anos, grandes empresas seguem sem entender o que acontece no país, como mostrou nesta semana o caso protagonizado pelo Nubank.

A coluna #Virouviral, da revista Veja, resumiu bem o ocorrido:

“Na última terça-feira, 18, a cofundadora do Nubank Cristina Junqueira, 42, divulgou em seu Instagram um evento promovido pelo site Brasil Paralelo, produtor de conteúdo ligado à extrema direita e ao bolsonarismo. O story feito pela empresária brasileira rapidamente repercutiu nas redes e gerou um problema de imagem para o banco digital. No Twitter, usuários incentivam o boicote da empresa e ameaçam transferir suas contas para concorrentes”.

Uma gigante como Nubank, que certamente conta com assessorias de comunicação e de relações institucionais e governamentais, caiu em um mais que manjado caminho em direção à crise –sofrendo boicote pela parte de seu público refratária ao site posicionado no extremo da direita no espectro ideológico brasileiro. E precisou ficar se explicando, como noticiou o Poder360.

Crises recentes

Os últimos anos estão repletos de exemplos parecidos. Essa notícia do UOL, de março de 2020, resume os casos envolvendo o apresentador Roberto Justus e o empresário Junior Durski, dono do Madero:

“Um dia após Roberto Justus minimizar o número de mortes causadas pela pandemia do novo coronavírus, Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero e Jeronimo Burger, seguiu na mesma linha e também mostrou mais preocupação com os efeitos da quarentena na economia do que com as vidas perdidas pela doença”.

Naquela ocasião, as narrativas sobre a pandemia já eram separadas pelo senso comum em dois grupos. Um deles, que incluiu Justus e Durski, ficou carimbado com o rosto do então presidente Jair Bolsonaro e sua abordagem à direita. O outro, ficou estampado com o selo da oposição de esquerda.

Poucos anos antes, o Habib’s já havia desagradado parte de seus clientes ao promover uma campanha em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff. A ação resultou, inclusive, em uma condenação da empresa na Justiça do Trabalho, como noticiou o blog Capital, do jornal O Globo.

Diversos outros episódios dão conta também do contrário: grupos refratários à esquerda boicotando empresas que foram associadas a Lula. Seguem dois exemplos, noticiados pelo G1, sobre São Paulo e Rio Grande do Sul:

Últimas